O que caracteriza o consumismo, não é o acumular bens, mas usá-los e descartá-los em seguida a fim de abrir espaço para outros bens e usos.
A vida consumista favorece a leveza e a velocidade e também a novidade e a variedade que elas promovem e facilitam. É a rotatividade e não o volume de compras, que mede o sucesso na vida do homo consumens.
Em geral, a capacidade de utilização de um bem sobrevive à sua utilidade para o consumidor. Uma vez usada, repentinamente a mercadoria adquirida impede a busca por variedade e, a cada uso, a aparência de novidade vai se desvanecendo e se apagando.
Pobres daqueles que, em razão da escassez de recursos, são condenados a continuar usando bens que não são mais contêm a promessa de sensações novas e inéditas. Pobres daqueles que, pela mesma razão, permanecem presos a um único bem em vez de flanar entre um sortimento amplo e aparentemente inesgotável.
Tais pessoas são os excluídos da sociedade de consumo, são os consumidores falhos, os inadequados, os incompetentes, os fracassados - famintos definhando em meio à opulência do banquete consumista.
Aqueles que não precisam se agarrar aos bens por muito tempo e decerto não por tempo suficiente para permitir que o tédio se instale, são os bem-sucedidos.
Volkmar Sigusch é um terapeuta que diariamente trava conhecimento com vítimas do "sexo puro". Ele registra as queixas de seus pacientes e a lista de lamúrias a exigir a intervenção de um especialista, cresce indefinidamente. O sumário de suas descobertas é tão sombrio quanto ponderado.
" (...) Todas as formas de relacionamento íntimo atualmente em voga, portam a mesma máscara de falsa felicidade que foi usada pelo amor conjugal e mais tarde pelo amor livre (...) Ao olharmos mais de perto e afastarmos a máscara, descobriremos anseios não realizados, nervos em frangalhos, amores frustrados, sofrimentos, medos, solidão, hipocrisia, egoísmo e compulsão à repetição (...) As performances substituíram o êxtase, o físico está por dentro, a metafísica, por fora (...) A abstinência, a monogamia e a promiscuidade estão todas igualmente distantes da livre vida da sensualidade que nenhum de nós conhece. (...)"